A RATOEIRA ALEMÃ
A ratoeira alemã
por ANDRÉ MACEDO
Não sei a origem destas frases e da magnífica palavra, o que sei é que quando estamos a 50 mil pessoas de chegar ao milhão de desempregados oficiais, quando as falências se amontoam e o Estado vacila mas não cede; ou seja, enquanto nada de estrutural mudou, apenas se instalou o medo e a desorientação como método de gestão no sector público, enquanto pelo caminho se rebentou com o sector privado, enquanto prosseguia esta corrida para o fundo... Merkel e Durão exibem uma falta de solidez que não me espanta, mas desilude e desespera.
Quer dizer, depois de termos engolido tudo, depois de termos sido acusados de todas as patifarias e desperdícios, agora que estamos de joelhos, com a dívida pública nas nuvens, agora que falta um ano para o fim do resgate... os pretensos salvadores zangam-se e reconhecem: este modelo não funciona e está carregado de erros. Como?! Certo, penso eu. Devem ser erros extraordinários, coisas difíceis de antecipar.
Vejamos. Os três erros no programa de assistência apontados pela Alemanha à Comissão Europeia são tão evidentes que até envergonha.
Cito o Público de segunda-feira. 1) "Os dois países [Portugal e a Grécia] não podem desvalorizar a moeda por estarem numa união monetária." Ena pá! Aqui está um detalhe novo; 2) "Os programas não integram a recessão económica do resto da zona euro que os impede de sair da crise pela via das exportações." A sério? Ninguém tinha avisado. 3) "O programa ignora a quebra de investimento resultante da situação catastrófica de muitos bancos." Por toutatis: realmente nem um só economista ou chofer de praça tinha chamado a atenção para esta pescadinha de rabo na boca. Dois anos de loucura e a Alemanha renega tudo o que nos impôs.
Concluo: as contas públicas descontroladas, os empresários pendurados no Estado, os empregados encostados à própria impreparação, os funcionários públicos protegidos e desvalorizados por uma redoma legal que mantém o resto do País refém - além de anos de crédito barato - tudo isso nos conduziu a um cruel experimentalismo económico e social. O problema não estava no diagnóstico.
Estava na dificuldade em acertar na receita com o menor custo possível, embora a fatura fosse sempre tornar-se pesada. Mas não foi pesada: foi destruidora, foi uma bomba. E agora a Alemanha lava as mãos à segunda-feira, embora à quarta (ontem) diga que afinal somos belíssimos. A montanha não pariu um rato; a Alemanha é que pariu uma ratoeira.
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