sexta-feira, 25 de julho de 2014

QUEM QUER DESMANTELAR A TAP? - VEJA AQUI "AS JUSTAS PREOCUPAÇÕES DO COMANDANTE JOÃO SOEIRO"

                            

AS JUSTAS PREOCUPAÇÕES DO COMANDANTE JOÃO SOEIRO


Este  texto 
de opinião foi-me solicitado pelo Luta Popular, jornal que prezo mas relativamente ao qual sou independente e serve para expressar o meu sentimento em relação à situação actual da TAP AIR PORTUGAL.
Porque vivo pacatamente aqui para os lados de Sacavém, próximo do local onde caíram, segundo um comunicado da TAP, ".....alguns detritos pela tubeira de escape." de um airbus A330 com destino a S. Paulo, fiquei preocupado.
E fiquei preocupado não porque esse sentimento venha a dar razão aos que querem os aeroportos fora dos grandes aglomerados populacionais, mas sim porque ele mesmo tem a ver com a maneira mera e sumariamente descritiva como o comunicado é feito - que o motor não explodiu só roncou - chocando brutalmente com a sensibilidade das pessoas, ao referir-se secamente ao facto "....verificou-se a projecção de alguns detritos pela turbina de escape. Quaisquer danos serão assumidos pela TAP".
Cocei os olhos. Julguei que tivesse lido mal. Que tivesse lido qualquer coisa do género, a TAP, congratulando-se com o facto dos detritos metálicos não terem causado danos pessoais de nenhuma espécie, assume desde já qualquer dano material provocado pelos mesmos detritos. Mas não foi isso que li. O que me deixa, isso sim, preocupado.
E dei por mim a matutar. Tivesse o que tivesse acontecido, continuava descansado porque sempre confiei na elevada categoria profissional dos pilotos da TAP e na maneira como resolvem os problemas mil vezes treinados em situações semelhantes mas começo, isso sim a ficar preocupado com a série de incidentes que diariamente invadem, mesmo com o jeitinho especial com que a administração da TAP sabe lidar com os jornalistas, as televisões e as primeiras páginas dos jornais. E porquê? A que se deve esta cadeia de incidentes?
Pois se a manutenção da TAP, reconhecida mundialmente, sempre descansou as suas tripulações e os seus passageiros com um serviço e uma fiabilidade única, a que se deve este sucessivo acontecer de factos que põem em causa o bom nome da companhia?
E matutando verifico que gente como o Engenheiro Sobral, que tanto contribuía para o bom nome manutenção já lá não está, assim como já lá não estão alguns engenheiros e uma centena de mecânicos de alta craveira que demandaram os países nórdicos e os Emiratos em busca de melhores oportunidades e de melhores condições. E fico preocupado.
Recentemente, a TAP resolveu adquirir mais seis aeronaves. Duas de longo curso, 2 A330 e quatro de médio curso, A319 e A320. As seis aeronaves e o contexto actual específico das tripulações levaram a um investimento assinalável ao nível dos pilotos, mais de 90, entre os quais podemos contar com elementos que são um verdadeiro exemplo de integração já que, sendo brasileiros, pertencem como sempre pertenceram no passado, aos quadros da companhia aérea nacional contrariamente ao que se passa no Brasil onde a reciprocidade parece ser palavra vã. E fico a pensar se por terras de Vera Cruz isto se deve a uma interpretação muito própria sobre o que é a dupla nacionalidade ou se tem a ver com outros factores bem mais próximos e promíscuos. Mas adiante, tudo isto leva a um esforço enorme na formação de tripulações e no acumular de trabalho, mais visível e sensível nas épocas de maior esforço.
As seis aeronaves, por sua vez, e ao contrário do que se passava em tempos idos, não são novas e trazem as suas mazelas. Mazelas essas que sobrecarregam ainda mais uma manutenção debilitada pela sobrecarga de esforço, nestas alturas sempre exigidas a todos os trabalhadores do universo TAP, mas especialmente a quem tem de lidar diária e continuamente com máquinas de elevada especificidade e complexidade.
E é precisamente nestas alturas, (curioso não é?) que as coisas acontecem. Assim como o Engenheiro Sobral que não pactuava com intenções, exigências, devaneios e forcings de uma administração e que por tal seguiu outro caminho, os responsáveis actuais devem começar a sentir dificuldades que se refletem no desempenho das suas máquinas e dos seus homens. Dificuldades cada vez maiores dado o aparecimento de corpos estranhos ou diferentes que são estas máquinas provenientes de outras paragens e de outras histórias.
Estas já são razões de sobra para a aparente degradação do estado de uma manutenção considerada das melhores do mundo e às quais há a acrescentar, como já referido, estes períodos mais exigentes de tráfego e, porque não e talvez por isso mesmo, a privatização em vista e a necessidade em apresentar números que a tornem mais apetecível. E daí os números da tesouraria serem, segundo informação confidencial, de modo a deixarem qualquer um de boca aberta. E ainda bem.
Mas se por um lado é bom que tais números apareçam, por outro é preciso dar muita atenção à segurança sempre tão sensível e que sempre foi apanágio daquela casa.
As necessidades e os compromissos obrigam ao fretamento de aviões e de tripulações em que alguns pilotos estrangeiros, a voar sob o indicativo TAP, apresentam deficiências de diversa ordem e um inglês que deixa muito a desejar, longe dos padrões normais exigidos aos pilotos portugueses e que lançam a confusão por esses centros de controlo e aeroportos fora. E tudo em nome da TAP. Mas há necessidade disto? Alguns dirão que sim mesmo em nome do que parece ser uma boa gestão. Eu diria que não e nada trocaria pelo bom nome TAP.
A TAP AIR PORTUGAL tem-se exposto em demasia ultimamente. E tem controlado tudo o que se imaginaria ser dito por gente sempre ávida destas confusões. É preciso jeito, talvez um pouco de arte e até algum saber. Com uma administração sem gabardina mesmo quando chove, os voos estão completamente cheios para todo o lado mesmo à custa de trabalho excessivo e de difícil controlo. E a euforia parece reinar lá para as bandas de quem manda.
Bem de finanças e apertada com tripulações e manutenção a TAP treme, ronca e continua a voar. Até sempre se Deus quiser.
Mas não havia necessidade disto tudo e daí, a minha preocupação.

João Soeiro 
 
comandante joao soeiro 01
O Comandante João Soeiro é um dos mais prestigiados aviadores da aviação militar portuguesa, com inúmeras operações de busca e salvamento, bem como de evacuação de feridos e doentes, designadamente na Região Autónoma da Madeira, e um dos mais respeitados Comandantes da TAP, da qual foi reformado ao atingir os 60 anos. Foi, entre 1996 e 1998, Presidente da AAPLA-Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea. Como Presidente da Direcção do SPAC-Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil no mesmo período de 1996-1998 foi também um combativo dirigente sindical dos pilotos, designadamente no processo de luta que culminou com a greve dos pilotos da TAP de 1997.













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