sábado, 2 de abril de 2011

"CAVACO CONSEGUIU" . CRÓNICA DE JOSÉ NIZA



Crónica de José Niza no jornal "O RIBATEJO". ----------------------------------------- "Num momento da vida portuguesa em que o País precisava de um Presidente da República isento, conciliador e interventivo, temos um Cavaco Silva parcial, divisionista e paralisado. Num momento da nossa vida colectiva em que Portugal precisava de um Presidente da República que fosse, realmente, o Presidente de todos os Portugueses, temos um Cavaco Silva a disparar um discurso de posse que rachou o Parlamento em duas partes, sendo que a maior até foi a mais hostilizada. Num momento em que Portugal e o governo precisavam de um clima político tranquilo e sereno, que, no mínimo, não prejudicasse os interesses do nosso país no exterior, é o próprio Presidente da República a contribuir para a queda do governo e a nada fazer para a evitar. É óbvio que muitos dos eleitores que votaram Cavaco Silva o fizeram na convicção de que ele iria fazer ao governo o que Manuela Ferreira Leite não tinha conseguido fazer a Sócrates. E acertaram em cheio: Cavaco cumpriu o que lhe exigiam que fizesse. Para quem – com alguma atenção – siga as posições que o Presidente da República tem vindo a assumir contra o governo, desde o verão de 2009, não há surpresas. Em 2006, quando Cavaco Silva foi eleito pela primeira vez, encontrou pela frente um governo do PS com maioria absoluta. Uma chatice, um contratempo que lhe retirava margem de manobra para grandes confrontos. E, vai daí, inventou aquela rábula da “cooperação estratégica”, uma forma parola de fingir que o lobo era o cordeiro. No Verão de 2009, em cima das eleições legislativas, a mirífica e virtual entidade que para golpes baixos se auto-intitula de “Presidência da República”, inventou aquela ignóbil patranha das “escutas”. Objectivo claro: ajudar o PSD e Manuela Ferreira Leite a derrotarem o PS e Sócrates. Depois, com o PS em minoria, e toda a oposição unida numa aliança negativa contra o governo, uma a uma, todas as reformas impopulares que o PS corajosamente tinha levado a cabo nos quatro anos anteriores foram destroçadas. E, o Presidente, calado que nem um rato. Caiu-nos depois em cima o tsunami de uma crise financeira mundial e devastadora, que está não só a complicar a nossa vida, como a de toda a Europa. E, o Presidente, calado que nem um rato. Soterrou-nos a seguir o escândalo financeiro do BPN, provocado, como é sabido, por ex-ministros e secretários de Estado de governos de Cavaco Silva. E, o Presidente, cego, surdo e mudo. Nem uma palavra. Calado que nem um rato. Vieram então as eleições presidenciais que Cavaco ganhou com uma minoria absoluta de votos, bastante inferior às votações que Mário Soares e Jorge Sampaio tinham obtido em quatro eleições anteriores. Durante a campanha, o actual Presidente foi confrontado com factos concretos e indesmentíveis da sua vida pessoal, que, noutro país de costumes menos brandos, lhe complicariam a candidatura. Em vez de os assumir e de dar uma explicação ao País, fez uma patética cena de amuo e vitimização que nem os seus próprios apoiantes compreenderam. Na noite eleitoral foi o que se viu e se ouviu nos dois discursos que proferiu: paranóia política, mania da perseguição, ódio, vingança, acerto de contas com quem nada lhe devia. E, finalmente, no discurso da posse, em vez de emendar a mão e a palavra, o Presidente da República arremeteu uma vez mais contra o governo, de uma forma tal que, um mês depois, conduziu à demissão de Sócrates. A somar a tudo isto, e para que não restassem dúvidas a ninguém, na véspera da votação do PEC, enquanto recebia Pedro Passos Coelho, fazia orelhas moucas aos dramáticos apelos de Mário Soares e de Jorge Sampaio para que tentasse evitar uma crise política de consequências imprevisíveis. Nada fez. E porque havia de o fazer se andou durante cinco anos a trabalhar para isto?"

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