quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O DESPLANTE DOS NOVOS SENHORES


A imprensa regional é uma excelente alternativa aos jornais " nacionais " dominados (quase sempre) por grupos de interesses. E também para os próprios jornalistas e cronistas que podem, sem temer consequências, exercer a sua missão em liberdade e com isenção. Não é por acaso que diversos governos lhes foram criando dificuldades com o objectivo de os calar. É um dever civico apoiar a imprensa regional. É facil ( através das edições on-line ), e o custo é zero. Quanto à qualidade, pedem meças ....
Eu não dispenso a imprensa regional

Aqui vai (mais) um exemplo, publicado no "histórico" Jornal do Fundão " com o título "O desplante dos novos senhores"

"DEPOIS de muitos anos lá fora, a impressão que fica de Portugal é que o país está largamente entregue a gente que não merece estar no poder. Que não deveria ter chegado a lugares de decisão essenciais. Mas que chegou. E que chegou em condições pouco famosas em termos de formação para exercer o poder. E sobretudo em termos da mais elementar conduta ética na vida.
É conhecido o caso de Armando Vara, “licenciado” em alta velocidade aos 51 anos na “Universidade” Independente. O de José Sócrates, “licenciado” aos 39 em condições pouco normais na mesma “universidade”. Ou o de Miguel Relvas “licenciado” aos 46 na Lusófona após um ou talvez mesmo quatro exames (JF, 12/7/2012). E poder-se-á recordar que Pedro Passos Coelho se licenciou (com aspas ?) aos 37 na Lusíada ?
Ora, no sistema universitário pré-Bolonha, um jovem obtinha uma licenciatura aos 22 anos, após quatro anos de estudos. E depois de três anos no sistema pós-Bolonha (o que noutros países se designa aliás por bacharelato, mas que em Portugal se chama pomposamente “licenciatura”). Num país que conta uma trintena de instituições universitárias (ou de ensino superior) públicas espalhadas de norte a sul, o que seria normal é que os ditos licenciados (com aspas ou sem elas) as tivessem frequentado. Tanto mais que as privadas são antes do mais refúgio de quem não obteve notas para entrar nas públicas. E que cai sobre elas a suspeita de serem sobretudo negócios que distribuem “canudos” em troca de propinas elevadas. Sem que, na maior parte dos casos, a qualidade pedagógica e científica dos docentes justifique tais exigências financeiras.
Os casos evocados estes últimos anos permitem tirar duas conclusões principais. Primeiro : muitos dos que ocupam altos cargos na vida política, económica e cultural são desprovidos de uma sólida formação académica e até de uma sólida preparação técnico-profissional que justifique as posições que ocupam. Segundo : o país está demasiadamente entregue a gente vorazmente ambiciosa, arrivista, sedenta de poder e, em muitos casos, totalmente desprovida de escrúpulos...
Depois da agitação social e política dos primeiros anos do pós-25 de Abril, o neoliberalismo consumista passou a ser a ideologia dominante e o horizonte quase absoluto proposto aos cidadãos. Ascensão e sucesso sociais passaram a ser avaliados em função de critérios em que primam os salários extravagantes, a arrogância e o desplante. Admire-se depois que o país tenha os dirigentes que tem e esteja no estado em que está" !…
J.-M. Nobre-Correia*
* Professor emérito da Universidade de Bruxelas (ULB)

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