domingo, 20 de janeiro de 2013

D.RICARDO SALGADO - COGNOME: "O FALTA DE MEMÓRIA"


RICARDO SALGADO "ESQUECEU-SE" DE COMPRAR  POLPA DE TOMATE E DE DECLARAR 8,5 MILHÕES

                               RICARDO SALGADO "ESQUECEU-SE" DE COMPRAR 

POLPA DE TOMATE E DE DECLARAR 8,5 MILHÕES

Artigo de opinião : Tiago Mesquita

O tratamento que alguns meios de comunicação social dão às notícias, mudando o tom consoante o(s) visado(s) é, no mínimo, surreal. Ricardo Salgado é provavelmente a única pessoa cujo primeiro nome é Doutor. Mas adiante.

Segundo li em diversos jornais, que destacaram uma noticia veiculada no jornal i, o "Dr. Ricardo Salgado esqueceu-se de declarar 8,5 milhões de euros". "Esqueceu-se" - dizem. 

Ora, não fosse Ricardo do Espírito Santo Silva Salgado precisamente o "Dr. Ricardo Salgado", todo-poderoso do mundo financeiro, fosse ele o Zé Mário - proprietário de uma retrosaria nos Anjos com sucursal em Luanda, que adora patchwork e economia paralela - e estou em crer que o título andaria à volta disto: "Zé Mário das lãs com o fisco à perna por causa de enchimento e manta acrílica não declarados", ou ainda qualquer coisa mais apelativa: "Vendas de velcro no valor de 8500 euros tramam Zé Mário".

Provavelmente o Zé Mário estava sujeito a ir preso por não ter dinheiro para pagar os milhares de euros em multas. 

E ao que parece este governo pretende prender tudo o que mexe por meia dúzia de tostões. 

Mas tratando-se de milhões de euros não declarados, algures perdidos no estrangeiro, a pessoa arrisca-se a ser condecorada. Para o Dr. Ricardo Salgado, primeiro-ministro não executivo deste país, o título dos jornais foi uma espécie de pedido de desculpas. "Dr. Ricardo, pedimos perdão mas temos de dizer qualquer coisinha. Estas coisas acontecem a todos. Os leitores vão entender, até porque vão identificar-se de alguma forma com o sucedido."

E é verdade. 

Há poucos dias andava tão desorientado no supermercado, à procura de amaciador da roupa, que me esqueci completamente do pão alentejano. Não foi intencional. E tenho a certeza de que o "esquecimento" do Dr. Ricardo se trata de uma situação idêntica. Uma distração. 

Uma ida ao mecânico para mudar os pneus ao Bentley, a seguir ao golfe, e, quando já ia a caminho de casa para preencher a papelada das finanças, liga a Maria João a pedir com urgência polpa de tomate e louro porque a Creusa tinha uma perna de peru à napolitana à espera de ingredientes. 

Com isto tudo, esqueceu-se de declarar os 8,5 milhões de euros em moedas que tinha no porta-luvas para dar aos arrumadores. Só os descobriu mais tarde, quando remexia o carro à procura do cartão de do Jumbo. Mas calma, está tudo pago e regularizado. 

Quem sabe, sabe, e o BES é que sabe.

expresso.sapo.pt
Artigo de opinião : Tiago Mesquita

O tratamento que alguns meios de comunicação social dão às notícias, mudando o tom consoante o(s) visado(s) é, no mínimo, surreal. Ricardo Salgado é provavelmente a única pessoa cujo primeiro nome é Doutor. Mas adiante.

Segundo li em diversos jornais, que destacaram uma noticia veiculada no jornal i, o "Dr. Ricardo Salgado esqueceu-se de declarar 8,5 milhões de euros". "Esqueceu-se" - dizem.

Ora, não fosse Ricardo do Espírito Santo Silva Salgado precisamente o "Dr. Ricardo Salgado", todo-poderoso do mundo financeiro, fosse ele o Zé Mário - proprietário de uma retrosaria nos Anjos com sucursal em Luanda, que adora patchwork e economia paralela - e estou em crer que o título andaria à volta disto: "Zé Mário das lãs com o fisco à perna por causa de enchimento e manta acrílica não declarados", ou ainda qualquer coisa mais apelativa: "Vendas de velcro no valor de 8500 euros tramam Zé Mário".

Provavelmente o Zé Mário estava sujeito a ir preso por não ter dinheiro para pagar os milhares de euros em multas.

E ao que parece este governo pretende prender tudo o que mexe por meia dúzia de tostões.

Mas tratando-se de milhões de euros não declarados, algures perdidos no estrangeiro, a pessoa arrisca-se a ser condecorada. Para o Dr. Ricardo Salgado, primeiro-ministro não executivo deste país, o título dos jornais foi uma espécie de pedido de desculpas. "Dr. Ricardo, pedimos perdão mas temos de dizer qualquer coisinha. Estas coisas acontecem a todos. Os leitores vão entender, até porque vão identificar-se de alguma forma com o sucedido."

E é verdade.

Há poucos dias andava tão desorientado no supermercado, à procura de amaciador da roupa, que me esqueci completamente do pão alentejano. Não foi intencional. E tenho a certeza de que o "esquecimento" do Dr. Ricardo se trata de uma situação idêntica. Uma distração.

Uma ida ao mecânico para mudar os pneus ao Bentley, a seguir ao golfe, e, quando já ia a caminho de casa para preencher a papelada das finanças, liga a Maria João a pedir com urgência polpa de tomate e louro porque a Creusa tinha uma perna de peru à napolitana à espera de ingredientes.

Com isto tudo, esqueceu-se de declarar os 8,5 milhões de euros em moedas que tinha no porta-luvas para dar aos arrumadores. Só os descobriu mais tarde, quando remexia o carro à procura do cartão de do Jumbo. Mas calma, está tudo pago e regularizado.

Quem sabe, sabe, e o BES é que sabe.

expresso.sapo.pt

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