segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

LIBERDADE - TEXTO DE JOÃO BRAGA

_ texto de João Braga

_ texto de João Braga

LIBERDADE?!

As gerações nascidas após a pretensa libertação trazida pelo golpe militar dos capitães, em Abril de 74, jamais saberão o que é ser livre, em termos de sociedade. Desde logo porque associam a liberdade aos avanços tecnológicos, sem se darem conta de que eles constituem o principal factor da sua privaçãoe. Depois porque não se é livre quando a Justiça não funciona; quando só se consegue ser atendido atempadamente nos hospitais civis por meio de "cunha"; quando o direito ao trabalho não existe; quando os políticos que supostamente deviam servir as populações se aproveitam dos dinheiros resultantes dos impostos com que as vão sobrecarregando para enriquecerem dessa forma ilícita e vil; quando o Ensino é distorcido à medida dos interesses videirinhos de quem está no poder em detrimento da verdade histórica; quando a Cultura é tratada como de sarna se tratasse. 

Tudo isto porque vim agora de uma consulta médica e o clínico me disse, à la...ia de curiosidade, que "neste momento o Ministério da Saúde sabe que o João se encontra aqui." Porquê? Porque no instante em que o médico passa as receitas em meu nome, usando o computador, está bem de ver, os serviços do ministério estão a receber essa informação.

A sociedade sonhada pelos "progressistas" dos anos 60, sem barreiras nem polícias políticas, sem censura nem "tabus", deu nisto. Por isso eu digo que as novas gerações e, pior ainda, as vindouras, nunca hão-de conhecer a felicidade de se fazer amor -- o que pouco ou nada tem a ver com fornicação pura e dura -- sem artefactos preventivos e sem presságios de uma eventual morte, horrenda e lenta, em resultado desse acto; nunca saborearão o prazer de estarem a namorar ao telefone ou até a discutirem uma negociação sem receio de escutas por parte das autoridades; desconhecerão por completo a intimidade que acompanhava a escrita de uma carta pois ao enviarem um mail todo o seu conteúdo poderá ser devassado pelo mundo; ser-lhes-á vedado o gozo supremo de lerem um livro, sentindo o cheiro das páginas enquanto as vão folheando e desfrutando da cumplicidade que se estabelece entre esse objecto e o leitor; não mais experimentarão o prazer libertador de se sentirem ignorados num qualquer ponto do planeta, posto que qualquer agente policial saberá com exactidão todo os passos que derem. A não ser...

A não ser que prescindam do telemóvel, do Iphone ou do lap top, e reaccionariamente, muito reaccionariamente, tentem imitar o estilo de vida dos seus pais e dos seus avós. Mas tomem muito cuidado porque se não meterem numa lixeira todos os equipamentos que o "progresso" vos forneceu, arriscam a travessia de uma vida inteira sem provarem aquilo que há de mais belo numa existência e que dá pelo nome de -- sem aspas, pontos de exclamação ou de interrogação-- liberdade.
LIBERDADE?!

As gerações nascidas após a pretensa libertação trazida pelo golpe militar dos capitães, em Abril de 74, jamais saberão o q...ue é ser livre, em termos de sociedade. Desde logo porque associam a liberdade aos avanços tecnológicos, sem se darem conta de que eles constituem o principal factor da sua privaçãoe. Depois porque não se é livre quando a Justiça não funciona; quando só se consegue ser atendido atempadamente nos hospitais civis por meio de "cunha"; quando o direito ao trabalho não existe; quando os políticos que supostamente deviam servir as populações se aproveitam dos dinheiros resultantes dos impostos com que as vão sobrecarregando para enriquecerem dessa forma ilícita e vil; quando o Ensino é distorcido à medida dos interesses videirinhos de quem está no poder em detrimento da verdade histórica; quando a Cultura é tratada como de sarna se tratasse.

Tudo isto porque vim agora de uma consulta médica e o clínico me disse, à la...ia de curiosidade, que "neste momento o Ministério da Saúde sabe que o João se encontra aqui." Porquê? Porque no instante em que o médico passa as receitas em meu nome, usando o computador, está bem de ver, os serviços do ministério estão a receber essa informação.

A sociedade sonhada pelos "progressistas" dos anos 60, sem barreiras nem polícias políticas, sem censura nem "tabus", deu nisto. Por isso eu digo que as novas gerações e, pior ainda, as vindouras, nunca hão-de conhecer a felicidade de se fazer amor -- o que pouco ou nada tem a ver com fornicação pura e dura -- sem artefactos preventivos e sem presságios de uma eventual morte, horrenda e lenta, em resultado desse acto; nunca saborearão o prazer de estarem a namorar ao telefone ou até a discutirem uma negociação sem receio de escutas por parte das autoridades; desconhecerão por completo a intimidade que acompanhava a escrita de uma carta pois ao enviarem um mail todo o seu conteúdo poderá ser devassado pelo mundo; ser-lhes-á vedado o gozo supremo de lerem um livro, sentindo o cheiro das páginas enquanto as vão folheando e desfrutando da cumplicidade que se estabelece entre esse objecto e o leitor; não mais experimentarão o prazer libertador de se sentirem ignorados num qualquer ponto do planeta, posto que qualquer agente policial saberá com exactidão todo os passos que derem. A não ser...

A não ser que prescindam do telemóvel, do Iphone ou do lap top, e reaccionariamente, muito reaccionariamente, tentem imitar o estilo de vida dos seus pais e dos seus avós. Mas tomem muito cuidado porque se não meterem numa lixeira todos os equipamentos que o "progresso" vos forneceu, arriscam a travessia de uma vida inteira sem provarem aquilo que há de mais belo numa existência e que dá pelo nome de -- sem aspas, pontos de exclamação ou de interrogação-- liberdade.

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