quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

AUTARQUIAS MONOCOSSÁURICAS



Excelente crónica!

É preciso que todos entendam que a nossa democracia está doente, muito doente, e que uma das principais causas são as relações familiares (e outras) no exercício de cargos políticos! A reforma do Estado, qualquer que ela seja, não resultará se não houver uma prévia reforma do sistema partidário e político!

Muito se badalou nas redes sociais e nos media sobre o caso da família Teixeira na Câmara de Loures. Infelizmente há muitas outras por esse país fora, e no próprio Concelho de Loures que, pela sua dimensão e promíscua interdependência, pedem meças à daquele autarca. É um tema a que voltarei de novo!

Loures County Stories
José Leónidas

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"ESTRUTURAS MONÁRQUICAS"

"Mesmo o observador menos atento verifica que as estruturas partidárias e não só revelam filamentos monárquicos na manutenção anos a fio dos seus principais dirigentes e plasmada para os seus descendentes. O filisteu apressado erguerá o braço a clamar contra o anteriormente afirmado, recordando sucessivos presidentes num partido com vocação de poder, caso do PSD, dizendo alto e bom som que os filhos, enteados, sobrinhos, primos e demais parentela não podem ser prejudicados por causa do patriarca ou matriarca exercerem cargos políticos durante décadas. E, no entanto, se dedicar atenção ao caso não tardará a descobrir liames, laços, nós, cordas e correias de transmissão geradoras de forte concentração de poder em poucas mãos, fazendo lembrar o Papa e o seu aparelho centralista.

O mal não reside no exercício dos cargos, a maleita está no facto de poucos resistirem à tentação e à pressão da família. Recentemente Louçã publicou um livro no qual desfia os elos de ligação entre as principais famílias da plutocracia financeira e os partidos, muito antes Belmira Martins e Jaime Gama tinham publicado trabalhos do género, o formidável prosador Tomaz de Figueiredo sofreu na carne a ousadia de num romance aludir a uma dessas famílias, mesmo Louçã continua a ser figura tutelar do no Bloco. O militante que tente discutir o assunto a nível de um conclave distrital arrisca-se a receber resmungos vincados quando não apupos porque as famílias não toleram tal discussão.

O leitor se estudar a composição das listas relativas a eleições autárquicas - executivo, assembleia municipal e assembleia de freguesia - ficará espantado ante a saliente estrutura monárquica existente a todos os níveis, por isso não é de admirar a sua proliferação até ao pináculo da pirâmide.

O peso das famílias leva ao empobrecimento da actividade partidária, e ao contrário das dos negócios que pagam caro o deslize dos filhos quando revelam incompetência, estas apesar dos desaires sofridos pela reiterada prática do abuso continuam impantes a preencherem lugares, em especial os de nomeação.

Esta realidade existe em todos os partidos, naturalmente, é mais saliente nos maiores, cá, lá e pelo caminho.

Nesta altura discute-se o escândalo do cacique de Baltar de Ourense, porque só não colocou o gato e o cão da família dada a relutância dos animais em serem funcionários. Nos finais do século XIX dizia-se: foge cão que te fazem barão, respondia este: para onde, se me fazem visconde!"

(crónica de Armando Fernandes, semanário O Ribatejo de 31/01/2013)


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