sexta-feira, 17 de maio de 2013

A LEVER PORTUGUESA - O FINAL DA INDÚSTRIA DE DETERGENTES PORTUGUESES





A Lever Portuguesa - o final da indústria de detergentes portuguesa

 O título 'Dona do Skip deixa de produzir detergentes em Portugal' é simplesmente redutor, por motivos diversos:

 1 - A dona do 'Skip' - até dá a sensação que se poderia chamar D. Alzira ou D. Aldegundes - é igualmente dona do 'Cif', do 'Comfort', do 'Sun', do 'Surf', do 'Axe', do 'Dove', do 'Linic', do 'Lux', do 'Rexona', do 'Vasenol' estes no domínio dos cuidados de casa e de higiene pessoal.

 2 - A dona do 'Skip' denomina-se Indústrias Lever Portuguesa S.A., resultando de uma associação de há décadas entre a Unilever e o grupo Jerónimo Martins.

 3 - Com o encerramento da Fábrica de Sacavém, encerra-se o ciclo de vida dos grandes produtores de produtos de limpeza e de higiene pessoal em Portugal, formado justamente pela Lever e por outras empresas de capitais nacionais, Sonadel/Uniclar (do grupo Quimigal e da SNS e fabricante do 'Xau', do 'Juá', do 'Super-Pop', da Javisol', do sabonete 'Feno de Portugal') e da SNS - Sociedade Nacional de Sabões Lda. (produtora do 'Sonasol')

 Desde os tempos de governação de Cavaco Silva - o infatigável lutador pelos investimentos em 'bens transacionáveis'- o PIB português sofreu considerável redução, através do desmantelamento de uma indústria que empregava centenas de engenheiros e trabalhadores especializados em 'química fina' no País. Ficámos reduzidos a dois dedos de fábricas de dimensão limitada, salientando-se, talvez, a Jodel, especializada na produção de marcas próprias para a distribuição moderna.

 Citei Cavaco Silva com o propósito de lembrar que foi sob o comando do seu governo que António Carrapatoso na Quimigal, às ordens de Mira Amaral, forçou e realizou a venda da Sonadel/Uniclar à Colgate da participação maioritária de 58% de capital. Os minoritários SNS e Macedo&Coelho tiveram de acompanhar a operação até aos 100%.

Apenas a título de curiosidade, refiro que, por mera coincidência, na altura, o filho de Cavaco entrou para os quadros da Colgate. Mais tarde saíu, segundo sei. Coincidências.

 O aspecto penoso desta história é Portugal hoje importar parte substancial dos produtos de limpeza e de higiene que consome, em contradição com o que sucedia há três décadas.

Em alguns anos da década de 1980, o País efectuou exportações de mais de 5.000 toneladas anuais de detergentes - marcas próprias da cadeia 'Tesco', 'Safeway' e 'Boots'  no Reino Unido eram abastecidas pela Sonadel que igualmente fornecia milhares de toneladas à argelina SNIC.

 Este exemplo de alienação de produções estratégicas e de centros de decisão a estrangeiros, como se comprova, resultam sempre em desindustrialização, aumento de desemprego, acréscimo das importações e outros danos causados à Economia do País. Seria útil que o bancário Gaspar, ignaro em termos de economia industrial, tomasse disso consciência.

 (Para evitar alongar ainda mais este 'post' não me referi intencionalmente ao sector das indústrias alimentares da Lever Portuguesa. Também nessa indústria, há histórias amargas por narrar)

 Por Carlos Fonseca, 16 de Maio de 2013, blog "Solos sem Ensaio"

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