sábado, 18 de janeiro de 2014

"CADÁVERES SOCIALISTAS A BOIAR NO SENA"



Opinião
Cadáveres socialistas a boiar no Sena
 
                  

Os socialistas morreram às mãos da ordem da inevitabilidade emitida de Berlim
 
Ana Sá Lopes
 
O discurso triunfal de François Hollande na terça-feira, anunciando que "não tem ideologia", é um "realista" e um "patriota" é um marco simbólico da inutilidade em que se transformaram os socialistas europeus. O programa contra a austeridade com que Hollande ganhou as eleições francesas já tinha sido enfiado num saco e atirado ao rio.
 
Desde terça-feira, o Sena está cheio de cadáveres de socialistas. Morreram todos às mãos do pensamento único da inevitabilidade emitido a partir de Berlim, com grandes apoios em importantes capitais, no sistema financeiro que nos levou à crise e na Comissão Europeia. A conferência em que Hollande se proclamou "sem ideologia" mostrou ao mundo para que serve um socialista a governar o segundo país mais forte da União Europeia: é igual a um tonitruante zero.
 
A germanização de François Hollande (pode-se escolher outro adjectivo, "blairização", "schröedização", liberalização, etc.) coloca os socialistas portugueses num lugar terrível, que é o lugar do não há alternativa. É natural que o PSD e todos os partidos de direita europeia festejem com alegria a viragem de François Hollande - da mesma forma que festejaram o acordo do SPD com a CDU de Merkel. A partir de agora, está institucionalizado que entre os partidos socialistas e os partidos de direita europeus as diferenças são nulas; que a social-democracia morreu algures sem ninguém dar por isso; que estamos a viver um momento de viragem dramática e que o risco maior é o crescimento dos Messias tipo Marine le Pen - a provável vencedora das europeias em que Hollande explicará que não existem alternativas. Há muito que Hollande é um incómodo para muitos socialistas portugueses, mas nem para todos, como se viu nas declarações do ex-ministro de Sócrates Correia de Campos, totalmente de acordo com a viragem de Hollande e rendido ao não há alternativas. A capitulação é sempre triste e no caso europeu demasiado perigosa.
 
O ministro e a chefe de gabinete. Nenhum ministro pode controlar tudo o que se passa no seu ministério. Mas espera-se que escolha para chefe de gabinete alguém da sua máxima confiança pessoal e política. O cargo de chefe de gabinete é decisivo na estrutura do ministério. Como foi possível que a agora demitida chefe de gabinete de Miguel Macedo tenha arranjado uma empresa na hora para ganhar - na hora - um concurso sem ajuste directo? A demissão não anula a gravidade do facto.
Jornal i 2014-01-17

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial