Brigitte argumenta que, enquanto a maioria dos muçulmanos no mundo são pacíficos, esses muçulmanos pacíficos não importam. A história, Brigitte mantém, nos diz que a maioria pacífica é sempre irrelevante. Pessoas violentas é que determinam o curso das coisas. No século vinte, na Alemanha, Rússia, China e Japão, a maioria era pacífica e mesmo assim milhões e milhões de pessoas morreram nas mãos de uma minoria brutal. A maioria pacífica se mostrou tremendamente incompetente em parar os mais horríveis eventos do século vinte: incompetente e também irrelevante.
Mas isso é uma má interpretação da história. Friedrich Nietzche observou, "Não existem fatos, somente interpretações." Mesmo assim, algumas interpretações são mais fatuais e menos fictícias do que outras. De acordo com Brigitte, por volta de 75 por cento dos islâmicos no mundo são pacíficos, enquanto 15 a 25 por cento são violentos. A precisão dessas porcentagens é questionável, mas vamos assumir para argumentação que essas porcentagens estão certas. Dizer que existem mais muçulmanos pacíficos do que violentos parece justo. Mas Brigitte, ao dizer que esses 75 por cento são irrelevantes é uma interpretação um tanto peculiar. Peculiar e problemática. Me permita usar uma analogia para ilustrar o problema.
De acordo com o estudo sobre o estupro, feito por Mary Koss em 1987, 4,5 por cento dos americanos em idade universitária já tinham forçado uma mulher a fazer sexo. se esta for uma representação precisa da realidade, então milhões de homens americanos algum dia já cometeram estupro. Agora se estes 4,5 por cento vai determinar o que nós devemos sentir e pensar sobre os homens, então eu devo assumir que um homem é um criminoso potencial. Na visão de Brigitte, os 95,5 por cento do restante dos homens não podem fazer nada para mudar isso, por que a maioria pacífica nunca mudar nada para melhor. Afinal de contas, eles são irrelevantes. obviamente, tal conclusão é altamente problemática. a maioria dos homens que nunca cometeram estupro realmente são relevantes. graças a essa maioria, uma mulher pode ainda se sentir segura quando está em público. São os membros dessa maioria pacífica que formam ou participam de organizações anti violência sexual, que contribuem para o crescimento da consciência de que o estupro é inaceitável em todas as suas formas. Existem inúmeras organizações sem fins lucrativos de apoio a mulher engajadas no objetivo de criar uma cultura livre da violência (sexual). E quem participa e apoia essas organizações são homens pacíficos que acreditam que a violência sexual não é aceitável de jeito nenhum - homens pacíficos cujos esforços não podem ser chamados de irrelevantes.
Brigitte não é a primeira a argumentar que a maioria pacífica da sociedade ou comunidade é irrelevante. Em 2006, o blogger canadense Paul Marek escreveu um artigo muito lido sobre a irrelevância da maioria pacífica dos muçulmanos, e Brigitte claramente simpatiza com as visões dele. Bastou somente uma mão cheia de muçulmanos violentos para "deixar os eua de joelhos" no 11 de setembro, Brigitte observou. Milhões de muçulmanos pacíficos foram completamente irrelevantes naquele dia onde 19 homens violentos cometeram ataques horrendos contra civis. Enfrentando tal mal, Brigitte argumenta, os pacíficos são necessariamente impotentes. Brigitte faz comparações entre os muçulmanos pacíficos de hoje com os alemães pacíficos da Alemanha pacífica que não deteram milhões de pessoas de morrer nas mãos de uma minoria violenta. Igualmente irrelevante, na visão de Brigitte, foi a maioria pacífica na união soviética sob regime stalinista. Mas a história nos dá um numeroso exemplo de membros dessa maioria irrelevante que fizeram uma imensa diferença em combater a violência, opressão e ódio. Se é pra dizer que a maioria pacífica não foi importante na Alemanha nazista ou na Rússia stalinista, se deve ignorar as ações de muitas pessoas excepcionais.
Alexsandr Solzhenitsyn foi, na interpretação de Brigitte, um homem irrelevante. O que ele de fato fez para deter a morte de milhões de pessoas no regime stalinista? Nada demais. Ele escreveu um livro sobre os horreres da vida nos Gulags: Um dia na vida de Ivan Denisovich. O livro foi um enorme estrondo para as autoridades comunistas. Um estouro do qual eles nunca se recuperaram por completo. O livro abalou a credibilidade política e intelectual do comunismo em todos os lugares onde foi lido e certamente contribuiu para a queda do comunismo. Mas na visão de Brigitte, foi somente um livro de um homem irrelevante. Um homem entre os milhões de russos pacíficos numa Russia comunista que eram contrários ao ódio e terror do sistema mas, pelos padrões de Brigitte, eram contrários em vão. Da mesma maneira, Oskar Schindler foi um membro da maioria pacífica da Alemanha Pacífica. Ele foi um dos muitos alemães que não simpatizavam com a ideologia odiosa do nazismo. Schindler, mesmo com sua aparente irrelevância, salvou mais de mil vidas. Por isso ele é considerado um heroi no Yad Vashem em Israel e por isso ele ganhou uma medalha que carrega o famoso ditado judeu: "quem salva uma vida, salva um universo inteiro". Salvar uma única vida pode mudar o mundo. Solzhenitsyn não tinha tal medalha, mas, da sua maneira, ele também contribuiu para o bem maior da humanidade estimulando o colapso de um sistema político opressivo e ideologia. indiretamente, ao acelerar a queda do comunismo, ele salvou inúmeras vidas.
Claro, Schindler e Solzhenitsyn eram pessoas excepcionais. Eles eram parte de maiorias pacíficas, mas existem somente alguns Schindlers e Solzhenitsyns dentro das maiorias. Então o que dizer dos outros? Esses que não salvaram vidas são irrelevantes? Não. Eles não são. Quando a poeira finalmente abaixa, nós teremos que confiar nessa maioria pacífica de pessoas, que podem não ser tão excepcionais, para criar uma sociedade justa. Foram as pessoas pacíficas que tiveram que reconstruir a Alemanha e a europa depois do cataclisma da segunda guerra mundial, mesmo que alguns deles tenham feito nenhum bem durante a própria guerra. E serão muçulmanos pacíficos que terão que restaurar a ordem e a paz onde há discórdia e violência. Já hoje inúmeros muçulmanos pacíficos estão comprometidos com essa tarefa. Muitos muçulmanos pacíficos se manifestaram contra a violência e o terror. Existem numerosas organizações nos Estados Unidos e em muitos países nas quais muçulmanos pacíficos se opõem ao terrorismo e a retórica de ódio que estimula violência anti-ocidente. Existem inúmeros artistas, escritores e intelectuais muçulmanos que usam sua arte e seus escritos como meios de condenar violência e terror. Um caso a ser apontado é o livro "Fatwa sobre o terrorismo e bombardeios suicidas", o volumoso decreto islâmico escrito pelo influente político e professor de direito pakistanês Muhammad Tahir-ul-Qadri. Ele é uma das muitas vozes muçulmanas clamando por uma reforma democrática, contra a corrupção governamental e a favor da paz. Ele representa a voz pacífica de pessoas pacíficas, e eu não acho que seria justo ou verdadeiro chama-lo de um homem irrelevante.
Violência sempre fez parte da existência humana e é utópico pensar que isso um dia vai mudar. Os pacíficos não podem mudar a natureza humana. Mas isso não significa que eles não podem mudar nada para melhor. E se eles puderem alcançar uma única boa ação, então eles não são irrelevantes. Existe, entretanto, uma vasta literatura sobre o papel dos espectadores em situações onde alguém é ofendido ou violentado. Inúmeros sociologistas, filósofos e psicologistas examinaram o papel dos espectadores de estupro, bullying, assassinato e crimes em larga escala contra a humanidade. Realmente existem pessoas que fazem o mal e pessoas que não fazem nada para prevenir esse mal de acontecer. O último não pode ser chamado de virtuoso. Esta visão é capturada em uma frase conhecida atribuída a Edmund Burke: "A única coisa necessária para o triunfo do mal é que bons homens não façam nada". A maioria pacífica nunca é irrelevante a não ser que a maioria se torne indolente e indiferente, a não ser que a maioria não faça nada e não se importe com nada. Então, e somente então, o mal irá triunfar. Passividade e não pacificidade, leva ao triunfo do mal.
Eu acredito que nenhuma pessoa de bom coração é irrelevante. Nem um único judeu, muçulmano, cristão, budista, hindu, agnóstico ou ateísta pacífico desse planeta é insignificante. E se eu estiver errado, se os pacíficos e de bom coração são irrelevantes, então nada parece mais importante pra mim do que ser irrelevante.
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Brigitte argumenta que, enquanto a maioria dos muçulmanos no mundo são pacíficos, esses muçulmanos pacíficos não importam. A história, Brigitte mantém, nos diz que a maioria pacífica é sempre irrelevante. Pessoas violentas é que determinam o curso das coisas. No século vinte, na Alemanha, Rússia, China e Japão, a maioria era pacífica e mesmo assim milhões e milhões de pessoas morreram nas mãos de uma minoria brutal. A maioria pacífica se mostrou tremendamente incompetente em parar os mais horríveis eventos do século vinte: incompetente e também irrelevante.
Mas isso é uma má interpretação da história.
Friedrich Nietzche observou, "Não existem fatos, somente interpretações." Mesmo assim, algumas interpretações são mais fatuais e menos fictícias do que outras. De acordo com Brigitte, por volta de 75 por cento dos islâmicos no mundo são pacíficos, enquanto 15 a 25 por cento são violentos. A precisão dessas porcentagens é questionável, mas vamos assumir para argumentação que essas porcentagens estão certas. Dizer que existem mais muçulmanos pacíficos do que violentos parece justo. Mas Brigitte, ao dizer que esses 75 por cento são irrelevantes é uma interpretação um tanto peculiar. Peculiar e problemática. Me permita usar uma analogia para ilustrar o problema.
De acordo com o estudo sobre o estupro, feito por Mary Koss em 1987, 4,5 por cento dos americanos em idade universitária já tinham forçado uma mulher a fazer sexo. se esta for uma representação precisa da realidade, então milhões de homens americanos algum dia já cometeram estupro. Agora se estes 4,5 por cento vai determinar o que nós devemos sentir e pensar sobre os homens, então eu devo assumir que um homem é um criminoso potencial. Na visão de Brigitte, os 95,5 por cento do restante dos homens não podem fazer nada para mudar isso, por que a maioria pacífica nunca mudar nada para melhor. Afinal de contas, eles são irrelevantes.
obviamente, tal conclusão é altamente problemática. a maioria dos homens que nunca cometeram estupro realmente são relevantes. graças a essa maioria, uma mulher pode ainda se sentir segura quando está em público. São os membros dessa maioria pacífica que formam ou participam de organizações anti violência sexual, que contribuem para o crescimento da consciência de que o estupro é inaceitável em todas as suas formas. Existem inúmeras organizações sem fins lucrativos de apoio a mulher engajadas no objetivo de criar uma cultura livre da violência (sexual). E quem participa e apoia essas organizações são homens pacíficos que acreditam que a violência sexual não é aceitável de jeito nenhum - homens pacíficos cujos esforços não podem ser chamados de irrelevantes.
Brigitte não é a primeira a argumentar que a maioria pacífica da sociedade ou comunidade é irrelevante. Em 2006, o blogger canadense Paul Marek escreveu um artigo muito lido sobre a irrelevância da maioria pacífica dos muçulmanos, e Brigitte claramente simpatiza com as visões dele. Bastou somente uma mão cheia de muçulmanos violentos para "deixar os eua de joelhos" no 11 de setembro, Brigitte observou. Milhões de muçulmanos pacíficos foram completamente irrelevantes naquele dia onde 19 homens violentos cometeram ataques horrendos contra civis. Enfrentando tal mal, Brigitte argumenta, os pacíficos são necessariamente impotentes. Brigitte faz comparações entre os muçulmanos pacíficos de hoje com os alemães pacíficos da Alemanha pacífica que não deteram milhões de pessoas de morrer nas mãos de uma minoria violenta. Igualmente irrelevante, na visão de Brigitte, foi a maioria pacífica na união soviética sob regime stalinista.
Mas a história nos dá um numeroso exemplo de membros dessa maioria irrelevante que fizeram uma imensa diferença em combater a violência, opressão e ódio. Se é pra dizer que a maioria pacífica não foi importante na Alemanha nazista ou na Rússia stalinista, se deve ignorar as ações de muitas pessoas excepcionais.
Alexsandr Solzhenitsyn foi, na interpretação de Brigitte, um homem irrelevante. O que ele de fato fez para deter a morte de milhões de pessoas no regime stalinista? Nada demais. Ele escreveu um livro sobre os horreres da vida nos Gulags: Um dia na vida de Ivan Denisovich. O livro foi um enorme estrondo para as autoridades comunistas. Um estouro do qual eles nunca se recuperaram por completo. O livro abalou a credibilidade política e intelectual do comunismo em todos os lugares onde foi lido e certamente contribuiu para a queda do comunismo. Mas na visão de Brigitte, foi somente um livro de um homem irrelevante. Um homem entre os milhões de russos pacíficos numa Russia comunista que eram contrários ao ódio e terror do sistema mas, pelos padrões de Brigitte, eram contrários em vão.
Da mesma maneira, Oskar Schindler foi um membro da maioria pacífica da Alemanha Pacífica. Ele foi um dos muitos alemães que não simpatizavam com a ideologia odiosa do nazismo. Schindler, mesmo com sua aparente irrelevância, salvou mais de mil vidas. Por isso ele é considerado um heroi no Yad Vashem em Israel e por isso ele ganhou uma medalha que carrega o famoso ditado judeu: "quem salva uma vida, salva um universo inteiro". Salvar uma única vida pode mudar o mundo. Solzhenitsyn não tinha tal medalha, mas, da sua maneira, ele também contribuiu para o bem maior da humanidade estimulando o colapso de um sistema político opressivo e ideologia. indiretamente, ao acelerar a queda do comunismo, ele salvou inúmeras vidas.
Claro, Schindler e Solzhenitsyn eram pessoas excepcionais. Eles eram parte de maiorias pacíficas, mas existem somente alguns Schindlers e Solzhenitsyns dentro das maiorias. Então o que dizer dos outros? Esses que não salvaram vidas são irrelevantes?
Não. Eles não são. Quando a poeira finalmente abaixa, nós teremos que confiar nessa maioria pacífica de pessoas, que podem não ser tão excepcionais, para criar uma sociedade justa. Foram as pessoas pacíficas que tiveram que reconstruir a Alemanha e a europa depois do cataclisma da segunda guerra mundial, mesmo que alguns deles tenham feito nenhum bem durante a própria guerra. E serão muçulmanos pacíficos que terão que restaurar a ordem e a paz onde há discórdia e violência.
Já hoje inúmeros muçulmanos pacíficos estão comprometidos com essa tarefa. Muitos muçulmanos pacíficos se manifestaram contra a violência e o terror. Existem numerosas organizações nos Estados Unidos e em muitos países nas quais muçulmanos pacíficos se opõem ao terrorismo e a retórica de ódio que estimula violência anti-ocidente. Existem inúmeros artistas, escritores e intelectuais muçulmanos que usam sua arte e seus escritos como meios de condenar violência e terror.
Um caso a ser apontado é o livro "Fatwa sobre o terrorismo e bombardeios suicidas", o volumoso decreto islâmico escrito pelo influente político e professor de direito pakistanês Muhammad Tahir-ul-Qadri. Ele é uma das muitas vozes muçulmanas clamando por uma reforma democrática, contra a corrupção governamental e a favor da paz. Ele representa a voz pacífica de pessoas pacíficas, e eu não acho que seria justo ou verdadeiro chama-lo de um homem irrelevante.
Violência sempre fez parte da existência humana e é utópico pensar que isso um dia vai mudar. Os pacíficos não podem mudar a natureza humana. Mas isso não significa que eles não podem mudar nada para melhor. E se eles puderem alcançar uma única boa ação, então eles não são irrelevantes.
Existe, entretanto, uma vasta literatura sobre o papel dos espectadores em situações onde alguém é ofendido ou violentado. Inúmeros sociologistas, filósofos e psicologistas examinaram o papel dos espectadores de estupro, bullying, assassinato e crimes em larga escala contra a humanidade. Realmente existem pessoas que fazem o mal e pessoas que não fazem nada para prevenir esse mal de acontecer. O último não pode ser chamado de virtuoso. Esta visão é capturada em uma frase conhecida atribuída a Edmund Burke: "A única coisa necessária para o triunfo do mal é que bons homens não façam nada".
A maioria pacífica nunca é irrelevante a não ser que a maioria se torne indolente e indiferente, a não ser que a maioria não faça nada e não se importe com nada. Então, e somente então, o mal irá triunfar. Passividade e não pacificidade, leva ao triunfo do mal.
Eu acredito que nenhuma pessoa de bom coração é irrelevante. Nem um único judeu, muçulmano, cristão, budista, hindu, agnóstico ou ateísta pacífico desse planeta é insignificante. E se eu estiver errado, se os pacíficos e de bom coração são irrelevantes, então nada parece mais importante pra mim do que ser irrelevante.
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