VEM AÍ O FIM DA BANCA
18/8/2017, 0:011 Autor: Miguel Gouveia
A mudança do modelo de negócios da banca não será
sustentável a médio e longo prazo devido ao aparecimento de novas empresas cuja
concorrência será devastadora para os bancos.
Recentemente chegou a notícia do fim das isenções nas
contas na CGD. Todas as contas, mesmo as das pensões mais pequenas, terão de
pagar comissões de manutenção. Numa notícia complementar, o Correio da Manhã
revelou que as receitas que os bancos obtêm com as cobranças de comissões
bancárias aos depositantes atingiram quase mil milhões de euros no primeiro
semestre deste ano.
Após centenas de anos o modelo de negócios dos bancos
está a mudar. Antes os bancos faziam intermediação financeira, ou seja, pagavam
juros aos aforradores para estes entregarem as suas poupanças e convertiam
estes fundos em empréstimos às empresas e aos Estados, empréstimos esses
remunerados a taxas mais elevadas que as pagas aos depositantes. Exceto pelo
facto de nas últimas dezenas de anos também ter crescido o crédito à compra de
casa pelos agregados familiares, este modelo de negócios era muito estável.
Esse estado de coisas acabou. Hoje a intermediação financeira é cada vez menos
importante para os bancos e está a ser substituída pela prestação de serviços
de pagamento. Os depositantes deixaram de ser fontes de custos e passaram a ser
fontes de receita.
A curto e médio prazo a banca no seu conjunto tem algum
poder de monopólio sobre os depositantes. Estes poderiam evitar as comissões
bancárias e os juros negativos “de facto” se passassem a usar apenas circulação,
notas e moedas. Contudo, por razões de conveniência e de segurança já não é
possível funcionar com o dinheiro debaixo do colchão. Por outro lado, não
deverá ser possível convencer os empregadores ou a Segurança Social a entregar
os salários ou as pensões em envelopes com notas. Acresce que os Estados querem
terminar com as notas e moedas e universalizar os pagamentos com registo
eletrónico para evitar a fuga aos impostos, pelo que o uso de circulação,
sobretudo para pagamentos elevados, é cada vez mais difícil.
No entanto, a mudança do modelo de negócios da banca não
será sustentável a médio e longo prazo devido ao aparecimento de novas empresas
cuja concorrência será devastadora para os bancos. O papel de empresas
tecnológicas nas funções de armazenar dinheiro e fazer de plataforma de
pagamentos irá crescer, já que a tecnologia quase exclusivamente baseada na
internet permitirá oferecer estes serviços a custos mais baixos que os dos
bancos. Mesmo a concessão de crédito está a ser ameaçada com a tecnologia
informática e financeira desenvolvida nas iniciativas de crowdfunding, as quais
possibilitam uma ligação mais direta entre aforradores e utilizadores de
crédito, desintermediando o financiamento das empresas e tornando os bancos
desnecessários. Isso significa que no futuro a banca fará pouco mais do que dar
crédito à compra de habitação e talvez algum financiamento a microempresas
demasiado pequenas para usar o crowdfunding. Ou seja, talvez a longo prazo a
banca sobreviva, mas se isso acontecer será com um papel residual.
Professor Associado da Católica Lisbon School of Business
& Economics,
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