segunda-feira, 4 de março de 2013

GRÂNDOLA, VILA MORENA



" Vão longe os tempos da minha memória, em que entoávamos eufóricos a Vila morena, e enchíamos as ruas da cidade com esfusiante alegria de quem tinha conquistado a sua independência, a sua dignidade, a sua liberdade. É bem confrangedor agora, termos que nos servir dessas mesmas estrofes para enfrentar, com os nossos protestos, uma gente anódina, autista, arrogante, que se assume como o Governo desta mesma nação. Vêm depois estabelecer graus de liberdade, como se quiséssemos silenciar aqueles que usufruem de uma liberdade total, que dispõem de todos os meios de comunicação, que servem da liberdade para reduzir o país à mais negra miséria, que fabricam desempregados e fecham empresas ao ritmo diário do nascer do sol.

Não foi essa liberdade que conquistámos. A nossa liberdade diz respeito ao direito ao direito de contestarmos o que nos oprime, nos empobrece, nos afronta, nos rouba a dignidade de sermos.

E indigna-me a figura de um ministro sem carácter, sem vergonha, sem dignidade, a tentar entoar a mesma canção do nosso protesto, exibindo a mais ridícula e hilariante figura. Depois vem a diretora da União Europeia louvar um povo que, em vez de violência nas ruas, protesta com uma canção. A dita diretora desconhece a raiz da canção que refere, desconhece que ela é um símbolo de uma revolução que fizemos com violência mínima e eficácia total. Ignora os sentimentos que essa canção desperta em cada peito, o que ela traduz de revolta e ódio pela situação a que estamos a ser submetidos.

Por isso, Grândola Vila morena será entoada por este povo sofredor, mas que não perdeu a memória, e a canta como lançando um grito de revolta, que talvez um dia se reflita nas paredes silenciosas de uma Europa a que por desventura estamos ligados"

Por Luís Eugénio Ferreira, em o Ribatejo, 28 de Fevereiro de 2013

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