O ESTADO A QUE CHEGÁMOS
Pacheco Pereira, na Quadratura do Círculo, referiu um episódio que passou despercebido a quase toda a
gente: Álvaro Santos Pereira, numa entrevista dada a seguir ao anúncio do
programa de revitalização da economia, diz que quando um seu secretário de
Estado saiu, houve gente que abriu garrafas de champanhe.
A quem estava ele a referir-se? A Henrique Gomes, o homem que ousou enfrentar os lobbies da
energia em Portugal e que pretendia fazer baixar as rendas excessivas da EDP.
Extraordinário país, este, em que um ministro admite em público
que um dos seus secretários de Estado foi demitido por tentar defender o Estado
(que somos todos nós) dos interesses privados que o parasitam. E por quem foi
ele demitido? Pelo primeiro-ministro, claro.
A história é simples, e contada pelo próprio Henrique Gomes:
duas horas após ter sido entregue ao primeiro-ministro o relatório onde se
defendia uma taxa sobre as rendas da EDP, já António Mexia, um dos homens mais
poderosos do país, conhecia o seu conteúdo. Henrique Gomes tinha o apoio do seu
superior directo, o ministro, mas deparou-se rapidamente com as dificuldades
inerentes ao estado corporativo em que vivemos. Passos
Coelho (ou alguém por ele), assim que vislumbrou algo que de facto poderia
fazer poupar muito dinheiro ao Estado, apressou-se a contactar quem na
realidade ele serve, o poder económico e financeiro. É claro que Mexia não
poderia tolerar tal afronta, e rapidamente o secretário de estado foi
exonerado, e apresentada uma pífia razão para o seu afastamento.
Numa democracia avançada, este caso por si só seria razão para a queda
do Governo. Imaginemos por exemplo o escândalo que não seria Obama afastar um
membro da sua equipa por influência de um dos poderosíssimos lobbies de Washington.
Pois. Mas não vivemos
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