domingo, 10 de novembro de 2013

A ARMADILHA DA OPOSIÇÃO



A armadilha da oposição 
 

Manuel Esteves 

Saiu ontem o principal indicador sobre o desemprego. E, para grande desalento da oposição, os números foram positivos. Sendo despropositadas quaisquer euforias numa altura em que o Parlamento se prepara para aprovar novo pacote de austeridade, não se percebe, contudo, a reacção da oposição, sobretudo do PCP e do BE. Ignorar a criação de 48 mil postos de trabalho no terceiro trimestre, que se somam aos 72 mil criados no segundo trimestre e reduzir os números ao fenómeno da emigração não é só chocante, descredibiliza PS, PCP e BE podem negar que sigam a lógica do "quanto pior melhor", mas é evidente que a sua estratégia precisa das más notícias como de pão para a boca. Basta ouvir um qualquer debate quinzenal no Parlamento com o primeiro-ministro e a estratégia repete-se. A oposição desenrola o novelo das misérias que alastram pelo país, num registo que faz lembrar as mais enfadonhas páginas da literatura neo-realista Dada a situação trágica em que está o País, este é um exercício bastante fácil, convenhamos. Mas também é cada vez mais inútil. É como as imagens da guerra, quanto mais as vemos na televisão menos nos impressionam. E se a sua denúncia é importante, não chega para pôr cobro ao flagelo. Por mais competentes que sejam as descrições da oposição, estas pouco impressionam os portugueses, que têm no seu dia-a-dia e dos seus familiares quadros bem mais comoventes.

O problema do povo é não saber como seria se fosse diferente. No fundo,à lógica do "quanto pior melhor", Zé Povinho responde com um prudente "para mau já basta assim". E é por isso, porque não vêem uma alternativa e porque inclusive a temem, que os portugueses não saem à rua É por isso que as intenções de voto dos partidos que apoiam o Governo não caem a pique. E não serão as descrições emotivas da oposição a mudar alguma coisa.

O problema de Portugal é de alternativas. A História ensina-nos que um povo está em apuros quando os seus governantes o tentam convencer de que há um só caminho. E nas alternativas que a oposição se deve concentrar, é para isso que ela existe.

Já não basta dizer que o programa de ajustamento foi mal desenhado porque agora todos - mesmo aqueles que antes o defenderam com unhas e dentes - já o reconhecem. A questão agora é saber que caminho alternativo é esse e como é que se pode trilhá-lo. Entre o ajustamento mais lento e gradual defendido pelo PS até à saída do euro, como condição necessária para o PCP ou como indesejável consequência para o BE, existem muitos caminhos. Todos com dor. Primeiro é preciso apresentá-los de forma clara Depois compará-los com a actual estratégia. E aí, sim, os portugueses poderão fazer uma escolha. Para já, não têm nada de concreto para escolher e, por isso, seguem em frente.

Editor de Economia


Jornal de Negócios 2013.11.08

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