LOURES 2014 - AS COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL -" A CENSURA ANTES E DEPOIS DO 25 DE ABRIL"
Comemorações do 25 de Abril
“A Censura Antes e Depois do 25 de Abril” em debate em Loures
O tema da censura esteve em destaque num debate organizado pela Câmara Municipal de Loures no âmbito das comemorações, no município, dos 40 anos do 25 de Abril.
O debate “A Censura Antes e Depois do 25 de Abril”, realizado no dia 3 de abril, na Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures, juntou na mesma mesa três convidados especiais com histórias para contar sobre este período da história portuguesa.
O debate, dirigido a alunos do ensino secundário mas aberto também à população em geral, visou apresentar diferentes perspetivas sobre censura e o controlo da informação, antes e depois do 25 de Abril de 1974.
Na abertura da sessão, o presidente da Câmara Municipal, Bernardino Soares, destacou o propósito da iniciativa e das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril que estão a decorrer no município com um amplo programa de iniciativas: “Queremos lembrar aquilo a que o 25 de Abril pôs fim. Queremos construir um futuro melhor, com base nos valores da Revolução”.
Ser jornalista no tempo do “Lápis Azul”
Fernando Correia, jornalista, professor e autor de vários livros, foi o primeiro dos convidados a usar da palavra, contando como era a realidade da profissão de jornalista antes da democracia: “Antes do 25 de Abril não havia escola de jornalismo, nem boas condições de trabalho, muito menos uma remuneração aceitável. Além disso, até meados da década de 60, não havia mulheres nas redações. Mas havia censura – acrescentou – um mecanismo para os jornais não publicarem o que o Governo não queria”.
O jornalista, que passou pela redação de vários jornais ao longo da sua vida, deu depois à plateia alguns exemplos de palavras que eram proibidas escrever: “Aborto, suicídio, homossexual, nudismo, violação, greves, epidemias, droga e corrupção”. Por outro lado, disse, “todas as ideias que colocassem em causa a política do Governo – como a Guerra Colonial e os movimentos da oposição – também não passavam na Comissão de Censura”.
A forma encontrada pelos jornalistas para contornar esta questão era, sublinhou Fernando Correia, através da prática da autocensura ou tentando enganar a própria Comissão com o recurso a eufemismos, alguns deles bastante caricatos.
“A censura não permitia que se conhecesse a realidade do Regime e a miséria que existia no País”, concluiu Fernando Correria.
Viver na clandestinidade
Carlos Pires, ex-tipógrafo do jornal “Avante!”, deu a conhecer a sua história de vivência na clandestinidade durante vários anos. “Os meus pais chegaram a ser presos mas a mim, felizmente, nunca me apanharam”, contou. “Alugávamos casas e fingíamos ser pessoas normais, íamos às compras e tentávamos passar despercebidos”.
“Comecei a trabalhar como tipógrafo aos 17 anos e fiz o «Avante!» na clandestinidade entre 1957 e 1974. Felizmente deu-se o 25 de Abril”, confidenciou.
“A diversidade está a perder-se”
Já Mário Crespo, jornalista e ex-pivot do canal SIC Notícias, abordou as questões mais atuais relacionadas com o jornalismo e a forma como esta profissão pode influenciar a opinião pública.
Contudo, não deixou de comentar também a sua recente saída do grupo Impresa – do qual faz parte a SIC –, após 13 anos. “Perdi o meu mais recente emprego por inconformismo editorial sobre várias questões. Não prolongaram o meu contrato. De facto, estou reformado, mas estava disposto a continuar a trabalhar”, garantiu.
“Não me venham dizer que não é possível manipular a imprensa em Portugal e que os jornalistas estão emancipados”, registou, recordando vários exemplos recentes de tentativas de manipulação de informação, nomeadamente por intermédio do poder económico.
“A riqueza de uma sociedade contemporânea está na diversidade e isso está a perder-se. Por outro lado, nós toleramos mal a verdade. Há muitos exemplos de jornalismo desviante em Portugal, mas o que é desviante é normalmente aniquilado em nome do bem comum”, frisou o antigo apresentar do “Jornal das 9”.
Revolução com Futuro é o mote para as comemorações do quadragésimo aniversário do 25 de Abril, em Loures, que tiveram início a 15 de março e decorrem até 4 de maio com iniciativas de vária índole.
Conheça aqui todo o programa das comemorações.
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