sábado, 3 de maio de 2014

CAVACO E A LEGITIMIDADE DE, EM DEMOCRACIA, ASCENDER AO PODER QUEM POR ELA NADA FEZ


OPINIÃO

Cavaco, a pedagogia da simulação
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“Ao fazer uma retrospetiva destas quatro décadas”, Cavaco conclui “que só nos aproximámos dos ideais de Abril quando soubemos unir-nos nas opções essenciais.” Por exemplo, “quando conseguimos aprovar uma Constituição que é a matriz fundadora do nosso regime democrático e do Estado social de direito.” A mesma Constituição votada pelo PPD mas da qual Cavaco dizia que sujeitava Portugal a uma “tutela coletivista imposta pelo golpe comunista e socialista do 11 de Março” (discurso de  19.5.1990), que pretenderia, dizia ele, a “perpetuação de uma orientação marxista e socializante para a sociedade portuguesa” e fora aprovada num “processo que não respeitou a dignidade de Portugal nem os nossos mais legítimos interesses” (artigo de Cavaco no JN, 25.4.1994)? Aquela cujas regras, de que fala Cavaco, não são cumpridas pelo actual Governo, chumbadas que são, uma após outra, várias das reformas troikoausteritárias, pedaços inteiros de Orçamentos do Estado? É que Cavaco nem por isso cumpre a própria Constituição e demite tal Governo; que me lembre, no Verão passado deixou até que ele se recauchutasse depois de ter caído com o estrondo da demissão  irrevogável” de Portas...
Nem discuto aqui a legitimidade de, em democracia, ascender ao poder quem por ela nunca nada fez e que mostrou horror permanente, militante, pela revolução que lhe deu origem. Cavaco foi libérrimo de conquistar o poder sem gostar do 25 de Abril e da Constituição, sem necessitar de ter sido militante antifascista! O que é revoltante é esta contrapedagogia da simulação. Ninguém o obriga, por mais PR que seja, a elogiar uma coisa e a outra, da mesma forma que nunca amou (como nunca usou, e bem!) o cravo vermelho. Só tem é de cumprir a Constituição, nem que seja a versão descafeinada dela que, em 1989, fez aprovar. O Presidente eleito por menos votos na história da democracia portuguesa, com a mais baixa popularidade de sempre, escusa é de, depois de anos a fazer a “pedagogia” de uma revolução “totalitária”, “comunista” e “soviética”, colar-se à memória do 25 de Abril no ano em que os portugueses que não o sentimos como Presidente da nossa República lhe gritámos a Grândola aos ouvidos.
Foi Freitas do Amaral quem disse estar “convencido, mas hoje julgo que estava errado, de que a grande maioria da direita portuguesa era, ou se tinha transformado, sinceramente, numa direita democrática. (...) A grande maioria da direita portuguesa só é democrata de fachada e no fundo, lá no íntimo, é salazarista” (entrevista a Notícias Magazine, 9.3.2003).
                                    
Manuel Loff ,  Historiador

Pode ler na íntegra no link que se segue:


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