quarta-feira, 16 de setembro de 2015

COMEÇOU O ANO ESCOLAR - QUE TAL LEMBRARMO-NOS DOS ESTUDANTES E DAS SUAS FAMÍLIAS?

                                                        

Macroscópio

 Por José Manuel Fernandes

Boa noite!

Já começou, mesmo que a pouco e pouco. O novo ano lectivo está a arrancar, uma semana mais tarde desta vez, mas sem os problemas que se verificaram há um ano. Como é habitual, vimos o ministro nas televisões, assim como as suas sombras, isto é, Mário Nogueira e os outros dirigentes sindicais. Os debates não foram especialmente instrutivos nem elucidativos, antes muito repetitivos, pelo que, neste Macroscópio, vou optar por me afastar deste ritual mediático que se repete todos os anos. Em vez disso andaremos por terrenos bem diferentes, como verão.

Primeiro, o das recomendações de início do ano. Há-as para todos os gostos, mas talvez a mais original de todas (já irei às outras) seja o Guia para o estudante que acabou de chegar a Lisboa, um trabalho de Tiago Pais no Observador que substitui, com vantagem, os guias que as nossas universidades deviam dar a quem vem estudar para a capital. Organizado em cinco capítulos (I — Acabei de chegar. Por onde começo?; II — Ainda não tenho casa. Devo preocupar-me?; III — Jantares, festas, ressaca, repetir. Mas onde?; IV — O que não posso perder em Lisboa? e V — Os exames estão aí. E que tal estudar (um pouco)?), este guia tanto lhe explica como funcionam os transportes públicos em Lisboa, como lhe diz as boas bibliotecas ou cafés onde estudar é um regalo, como acrescenta as indispensáveis sugestões para noites longas com pouco dinheiro na carteira. Lendo-o ficará a conhecer, por exemplo, cinco tascas lisboetas no eixo Bairro Alto/Cais do Sodré, cinco lugares onde de mesa em conta e onde até corre o risco de encontrar algum jornalista aqui desta casa (o Observador, como os velhos jornais lisboetas, tem sede no Bairro Alto – somos modernos mas há tradições que são tradições, pelo que viemos fazer companhia a “A Bola”, o único que por cá ainda morava).

Mas se este trabalho se dirige aos que chegam a Lisboa, já aquele que a Ana Dias Ferreira desenvolveu - Como escolher a mochila do seu filho – vai ao encontro das preocupações da generalidade dos pais, pois o peso que os miúdos são obrigados a carregar diariamente é tudo menos razoável. De novo estamos perante um texto muito prático: Mochila ou pasta — ganha mesmo a primeira?; Como deve ser a mochila?; Qual é então o peso máximo que uma criança deve transportar?; Com muito peso, as mochilas com rodinhas são uma boa opção?; e Há alguma forma mais correta de arrumar os livros? Os conselhos não são gratuitos e muito menos bitaites, pois o Observador foi falar com o neurocirurgião Paulo Pereira, vice-presidente da Sociedade Portuguesa da Patologia da Coluna Vertebral e coordenador nacional da campanha de sensibilização Olhe Pelas Suas Costas.

Alguns destaques de outros órgãos de informação, seguindo sempre o critério de ir mais para as questões práticas e humanas:
  • O Público recolheu vários testemunhos que reuniu em O regresso às aulas na primeira pessoa, transmitindo perspectivas de pais, alunos, professores e directores escolares. Há quem esteja sobretudo preocupado com as médias (ou com os exames), quem explique o que é ficar colocado muito longe de casa, quem se queixe dos preços absurdos dos materiais escolares ou quem dê conta de como a demografia tem vindo a esvaziar muitas escolas.
  • O Expresso Diário (link para assinantes) abordou um tema que, tendo passado também por outros órgãos de informação, não pode ser ignorado: o papel dos computadores nas escolas. Em Os computadores não salvam a Educação, Isabel Leiria parte de um relatório da OCDE  - “Students, Computers and Learning: Making The Connection” - em que foram analisados 31 países e se chegou à seguinte conclusão: “Em nenhum dos casos onde a maioria dos alunos usa a Internet na escola de forma frequente se registou uma melhoria do desempenho”. Mais: “Regra geral, podemos dizer que a relação entre o recurso a computadores no ensino e o desempenho dos alunos se pode traduzir numa curva com o formato de uma montanha: o uso limitado pode ser melhor do que a interdição total, mas níveis de utilização acima da média da OCDE estão associados a resultados significativamente piores”. O trabalho adianta algumas possíveis explicações, interessantes de ler face à nossa história recente neste domínio.

Aproveito agora o facto de estamos a falar de regresso às aulas para ir até um debate que podia, e devia, estar mais presente na nossa campanha eleitoral: o de saber que grau de autonomia podem ter as escolas; quem pode geri-las, mesmo estando elas integradas na oferta pública; e que grau de liberdade de escolha podem e devem ter os pais. Trata-se de um tema que tem gerado enorme discussão sobretudo no mundo anglo-saxónico, como os sindicatos a defenderem modelos mais centralizados e estatistas, modelos esses que têm sido desafiados não apenas pelos partidos mais à direita, mas também por forças mais à esquerda (como aconteceu com o primeiro responsável pela Educação na Administração Obama).

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