quarta-feira, 6 de novembro de 2013

QUANDO OS PREJUÍZOS DOS BANCOS SÃO BOAS NOTÍCIAS



Quando os prejuízos dos bancos são boas notícias



António Costa - Director  

O sector bancário nacional registou nos primeiros nove meses do ano um agravamento dos prejuízos em relação ao mesmo período do ano passado. Os números impressionam, podem até assustar, porque resultados negativos de 1,2 mil milhões de euros não deixam ninguém indiferente. Mas são, afinal, boas notícias, apesar dos riscos ao virar da esquina.

A análise às contas dos quatro bancos que já divulgaram contas - a excepção é o Santander Totta - mostra que três apresentaram prejuízos significativos e um - o BPI apresentoulucros de 72 milhões de euros. A CGD, o Millennium bcp e o BES tiveram prejuízos, que teriam sido piores sem a actividade internacional.

O resultado da actividade - medido pelo produto bancário - continua a cair, na sequência da situação económica, claro, e da mudança do paradigma dos bancos, que passaram a fazer o que deveriam ter feito desde sempre, isto é, analisar o risco de cada cliente. Menos negócio, é menos produto.

Qual é, então, o sinal positivo? As provisões, que servem para 'tapar' as imparidades de crédito, já atingiram níveis recorde e começam a dar sinais de abrandamento. Quanto mais provisões, menos lucros, ou mais prejuízos. A evolução deste indicador reflecte duas realidades, cumulativas ou não: por um lado, o peso de crédito mal avaliado durante anos que, agora, com a economia em baixa, entrou em risco de incumprimento e, por outro, a cautela ou conservadorismo sobre o que ainda está para vir. É, claro, também, verdade que os bancos mais expostos ao crédito às empresas têm, potencialmente, mais riscos ou problemas presentes.

Se a economia der algum sinal de recuperação, por pequeno que seja, as provisões vão cair e os resultados vão melhorar e isso é fundamental para garantir o financiamento à economia. Mesmo um financiamento que, agora mais do que nunca, faz uma separação clara de risco entre as boas e as menos boas empresas, através do custo do dinheiro.

O problema, o risco, são as avaliações da qualidade dos activos e os testes de stress que aí vêm. Não é só para os bancos portugueses, mas a pressão é grande, sobretudo pelas exigências do Banco de Portugal que, aqui, estará a ser ainda mais exigente do que os seus homólogos, como o espanhol, por exemplo. Por causa da nova supervisão europeia, Carlos Costa quer entregar ao BCE bancos com um balanço 'limpo', e não está a facilitar.

Os bancos portugueses têm, em relação a outros, a vantagem de terem ainda disponíveis cerca de seis mil milhões de euros da linha de recapitalização disponíveis para servirem de ajuda ao reforço dos capitais dos bancos, caso se venha a verificar a sua necessidade. É uma rede de segurança, que permite, apesar de tudo, algum conforto.

Até o BES e Ricardo Salgado, que farão tudo para evitar os capitais do Estado, a contragosto de muita gente que gostaria de meter a mão na administração do banco, tem em última análise essa hipótese. Por isso, com a informação que está hoje disponível, os depositantes podem dormir descansados. 

Diário Económico 2013.11.05

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