sexta-feira, 21 de março de 2014

FRAUDES NA BANCA, BUFOS NO AUTOCARRO


                                
                                       
Espalhados por Lisboa, andam cartazes com dois olhos vigilantes. Só graficamente, a coisa já é sinistra. Mas faz justiça ao que nos pede: que ajudemos a combater a fraude. Como o apelo não se resume ao pagamento do nossos bilhetes, o que se pede é que sejamos bufos. E explica-se porquê. Porque menos gente a pagar é menos carreiras e pior qualidade no serviço. Na realidade, fico espantado. Os preços dos títulos de transporte subiram exponencialmente nos últimos anos, por decisão dos mesmos senhores que fizeram estes cartazes. As carreiras diminuíram. O serviço degradou-se. E, ao que parece, os serviços da Carris e do Metro até vão ser concessionados a privados, até junho, o que torna este anúncio ainda mais absurdo. Foi por causa das fraudes que tudo isto aconteceu? Só se nela se incluírem os swaps. E nem todos os olhos bem abertos para as responsabilidades passadas e presentes da ministra das Finanças, enterrada na coisa até às orelhas, a tiraram do lugar.
Mas o que mais me perturbou foi ver aqueles olhos azuis esbugalhados a apelarem à delação enquanto lia, nas capas dos jornais, que Jardim Gonçalves se tinha safado de uma multa de um milhão de euros, por prescrição. É ver que Oliveira e Costa e Rendeiro podem ir pelo mesmo caminho. E que é mais fácil um banqueiro manipular o mercado de ações e enganar o Estado e os depositantes em milhões do que um desgraçado andar no metro à borla.
Sim, a fraude ajuda a que haja menos autocarros, menos escolas, menos hospitais. Que os títulos de transporte, as propinas ou as taxas moderadoras pesem mais nas nossas carteiras. Que os serviços públicos percam qualidade. A fraude do BPN, que nos está a levar milhares de milhões de euros que ninguém parece querer cobrar a ninguém. Mas não apenas ela. A fraude em que se transformou o sistema financeiro, onde enterramos dinheiro em resgates e juros e que, em Portugal e por todo o mundo, é hoje sinónimo de abuso, escândalo e amoralidade. E nem quando as comadres se zangam e uma delas põe a boca no trombone, como aconteceu com Joe Berardo, alguma coisa acontece. Esta é a fraude que me interessa. Se não querem mobilizar a coragem dos políticos, os recursos do Estado e o empenho dos cidadãos contra ela, como têm o atrevimento de apelar à bufaria nos transportes públicos?
Um desempregado anda, sem pagar, nos transportes que o senhor Sérgio Monteiro se prepara para privatizar? Comigo, pode estar descansado. O máximo que farei será empatar algum tempo o fiscal para lhe dar tempo para escapar. Faço mal? Não farei nem mais nem menos do que o Banco de Portugal e o Ministério Público fizeram com Jardim Gonçalves. E sempre ajudo alguém que precisa


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