SOMOS TODOS ALEMÃES E ISTO VAI ACABAR MAL
Editorial
Somos todos alemães e
isto vai acabar mal
Schulz
não fará melhor do que o nosso Durão com esta correlação de forças
Ana
Sá Lopes
O
acordo Merkel-SPD para a grande coligação na Alemanha tem uma coisa boa – a
começar na instituição de 8,5 euros de salário mínimo à hora. É bom que os
alemães tenham mais dinheiro disponível para gastar, o que só vai favorecer a
sua própria economia como pode dar uma ajuda às nossas exportações e às de
outros países europeus em crise.
Mas, com a excepção do salário mínimo, o acordo de coligação é uma vitória em toda a linha de Angela Merkel e das suas políticas europeias. A total ausência de mudança de rumo nas políticas europeias que ficou instituída no acordo de coligação é mais uma machadada na social-democracia europeia. Afinal, para que serve aos outros europeus que exista uma coligação na Alemanha com os sociais-democratas se esses sociais-democratas não servem para nada no que às políticas europeias diz respeito?
Mas, com a excepção do salário mínimo, o acordo de coligação é uma vitória em toda a linha de Angela Merkel e das suas políticas europeias. A total ausência de mudança de rumo nas políticas europeias que ficou instituída no acordo de coligação é mais uma machadada na social-democracia europeia. Afinal, para que serve aos outros europeus que exista uma coligação na Alemanha com os sociais-democratas se esses sociais-democratas não servem para nada no que às políticas europeias diz respeito?
O
falhanço da Europa não é um falhanço apenas da “senhora Merkel” e do
liberalismo que resgata bancos (e nunca pessoas). Esse liberalismo foi
penalizado durante 15 dias após o colapso do Lehman Brothers mas rapidamente
voltou ao seu lugar de comando da política europeia. A social-democracia, que
tinha uma oportunidade de ouro para se impor depois da crise de 2008, ficou
apática. Afinal, com a Terceira Via, já se tinha passado para o outro lado e
estava confortavelmente instalada no sistema liberal. O que estamos a assistir
por estes dias é ao desaparecimento de uma das forças fundadoras da Europa. A
tragédia Hollande tinha sido antecedida pelo acordo dos socialistas e
sociais-democratas ao pacto orçamental – com imensos socialistas em toda a
Europa e muitos por aqui a defenderem que o défice zero devia ser inscrito na
Constituição.
Recentemente,
na TVI, Paulo Rangel chamava a atenção para o acordo que está subjacente à
possível eleição do social-democrata alemão Martin Schulz para a presidência da
Comissão Europeia. Os discursos e os textos de Schulz são interessantes e
parecem consistentes com a possibilidade de uma alternativa. Mas Schulz vai a
votos com o patrocínio da senhora Merkel. Alguém acredita que Martin Schulz
venha a fazer melhor que o nosso pobre Durão Barroso com esta bênção e com esta
correlação de forças?
Toda a Europa está ocupada – e não é só o nosso desgraçado secretário de Estado que é “alemão” aos olhos dos gregos. Não existem aldeias gaulesas nem uma vontade firme de fazer uma aliança no Sul. A coisa vai acabar muito mal.
Toda a Europa está ocupada – e não é só o nosso desgraçado secretário de Estado que é “alemão” aos olhos dos gregos. Não existem aldeias gaulesas nem uma vontade firme de fazer uma aliança no Sul. A coisa vai acabar muito mal.
http://www.ionline.pt/iopiniao/somos-todos-alemaes-vai-acabar-mal/pag/-1
Jornal i 2013-12-02
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