domingo, 29 de dezembro de 2013

O APARTHEID EXISTIU?

                                                             O APARTHEID EXISTIU?

                                    O APARTHEID EXISTIU?

Quando nos perguntam se vimos o homem que, no funeral de Nelson Mandela, teve o episódio esquizofrénico, a resposta certa é: qual deles?

Há o intérprete de língua gestual, claro, mas havia mais esquizofrenia nas cerimónias fúnebres. O mundo inteiro compareceu para prestar homenagem ao homem que, há pouco mais de 20 anos, estava preso. E estava preso, recorde-se, por combater um regime iníquo apoiado por várias potências estrangeiras. Os dirigentes dessas potências, passando por episódios esquizofrénicos mais intensos que o do intérprete, curvaram-se perante o cadáver do homem que ajudaram a manter preso. 

Membros de governos que lhe chamaram terrorista afagaram a urna. Outros dirigentes, também vítimas de ataques de esquizofrenia, elogiaram a luta não-violenta de Mandela, fingindo ignorar a sua defesa do combate armado. Racistas e colonialistas de todas as latitudes hastearam bandeiras a meia haste e publicaram mensagens de grande pesar. Utilizadores de blogues, feicebuques e tuíteres, muitos dos quais lamentam diariamente a existência de gente com tons de pele diferentes do seu, prestaram-lhe homenagem publicando fotografias, as datas de nascimento e morte, e promessas de nunca esquecerem o seu exemplo, seja ele qual for.

 Mandela bateu-se por um mundo mais justo, e fê-lo de tal maneira que aqueles que praticaram durante anos a injustiça desapareceram em apenas 20 anos. Toda a gente teve um encontro privado memorável com Mandela, toda a gente pressionou organismos internacionais, toda a gente o trata por Madiba. Onde estarão todos aqueles que Mandela combateu e que o mantiveram preso durante quase 30 anos? Desapareceram. Mandela fez desaparecer mais gente do que Pinochet. Que sonso.

Uma das reacções mais belas que pude escutar foi a da deputada do PSD, Teresa Leal Coelho, que, na hora da morte de Mandela, sublinhou o orgulho que sentia por o ex-Presidente da África do Sul ter casado com uma pessoa de língua oficial portuguesa. Partem os grandes homens e resta-nos a recordação das suas maiores façanhas. Mas Teresa Leal Coelho não tem razões para lamentar durante muito tempo a partida de um grande homem: todos os homens da minha família casaram com mulheres cujo idioma é o português, menos o meu primo Serafim, que casou com uma belga, e por isso não tem a mesma estatura moral que o resto dos Pereiras. Mas, a todos os outros, o matrimónio conferiu perfil de grande estadista.


http://visao.sapo.pt/                               

 
Quando nos perguntam se vimos o homem que, no funeral de Nelson Mandela, teve o episódio esquizofrénico, a resposta certa é: qual deles?

Há o intérprete de língua gestual, claro, mas havia mais esquizofrenia nas cerimónias fúnebres. O mundo inteiro compareceu para prestar homenagem ao homem que, há pouco mais de 20 anos, estava preso. E estava preso, recorde-se, por combater um regime iníquo apoiado por várias potências estrangeiras. Os dirigentes dessa...
s potências, passando por episódios esquizofrénicos mais intensos que o do intérprete, curvaram-se perante o cadáver do homem que ajudaram a manter preso.

Membros de governos que lhe chamaram terrorista afagaram a urna. Outros dirigentes, também vítimas de ataques de esquizofrenia, elogiaram a luta não-violenta de Mandela, fingindo ignorar a sua defesa do combate armado. Racistas e colonialistas de todas as latitudes hastearam bandeiras a meia haste e publicaram mensagens de grande pesar. Utilizadores de blogues, feicebuques e tuíteres, muitos dos quais lamentam diariamente a existência de gente com tons de pele diferentes do seu, prestaram-lhe homenagem publicando fotografias, as datas de nascimento e morte, e promessas de nunca esquecerem o seu exemplo, seja ele qual for.

Mandela bateu-se por um mundo mais justo, e fê-lo de tal maneira que aqueles que praticaram durante anos a injustiça desapareceram em apenas 20 anos. Toda a gente teve um encontro privado memorável com Mandela, toda a gente pressionou organismos internacionais, toda a gente o trata por Madiba. Onde estarão todos aqueles que Mandela combateu e que o mantiveram preso durante quase 30 anos? Desapareceram. Mandela fez desaparecer mais gente do que Pinochet. Que sonso.

Uma das reacções mais belas que pude escutar foi a da deputada do PSD, Teresa Leal Coelho, que, na hora da morte de Mandela, sublinhou o orgulho que sentia por o ex-Presidente da África do Sul ter casado com uma pessoa de língua oficial portuguesa. Partem os grandes homens e resta-nos a recordação das suas maiores façanhas. Mas Teresa Leal Coelho não tem razões para lamentar durante muito tempo a partida de um grande homem: todos os homens da minha família casaram com mulheres cujo idioma é o português, menos o meu primo Serafim, que casou com uma belga, e por isso não tem a mesma estatura moral que o resto dos Pereiras. Mas, a todos os outros, o matrimónio conferiu perfil de grande estadista.



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